Daniel Jorge
A poesia faz a gente ver a vida de forma diferente, mesmo enfrentando tudo e todos.
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Textos
Meu amigo Dom Expedito Lopes, estamos em 2020, e, perscrutando os meus pensamentos, pensei em ti. Recordei que há quatro anos, um dia após teu aniversário te escrevi uma carta, onde manifestava esperança, mas ao mesmo tempo a angústia que habitava em meu ser. Naquela oportunidade, deves lembrar, te falei do descaso promovido por muitos dos homens e mulheres que dizem ser os defensores de ti e dos teus filhos, quando na verdade, pleiteiam uma busca insana apenas pelo poder. Na ocasião, também falei de esperança, rogando a Deus que concedesse a teus filhos o discernimento necessário para escolher um líder que estivesse à altura de ti. Pode ser cedo para fazer esta afirmação, mais o fato é que, de lá para cá muita coisa mudou. E mudou para melhor! Acredito, Dom Expedito Lopes, que podemos agradecer a Deus por ti e teus filhos.

Meu amigo, já faz alguns anos que deixei tuas terras, mais sempre me lembro de ti. E por cultivar estas lembranças, sinto-me na obrigação de pelo menos te escrever. De compartilhar contigo minhas percepções, minhas esperanças, minhas angústias. Dom Expedito Lopes, o estar “distante”, me permite te olhar de fora e perceber algumas questões que por vezes são ignoradas ou negligenciadas pelos filhos teus. Sim, por vezes, o peixe não consegue perceber as mudanças que ocorreram na água. Talvez muitos ignorem o meu jeito de pensar, de falar, de sugerir, mas, isso não me importa. Fico, em parte, satisfeito por poder te escrever! Sabe, meu amigo, não trago em mim nenhuma pretensão de lhe conferir lição de moral. Não, não se trata disso! Quero te falar do cotidiano, e, na medida do possível, propor-lhes algumas reflexões. Espero ser breve, mas se por alguma razão não conseguir me utilizar da brevidade necessária, peço-te que tenha paciência comigo.  

MEMÓRIA

Como antecipei na introdução, o ano de 2016, (ocasião em que te escrevi) prefigurava um cenário trágico para os teus filhos. Era, como este, um ano eleitoral, e as personalidades políticas que se apresentavam em “defesa” dos que pertencem a ti, já eram bem conhecidas. Sim, eram personalidades que a exemplo das sereias emitem bonitos cantos, mas, na primeira ocasião inicia-se o rito de sufocamento. Os cantos “encantadores” se multiplicavam e mesmo sabendo das consequências trágicas, já comprovadas com o tempo, muitos dos teus filhos os seguiam “encantados”. Buscavam naquelas personalidades uma consulta médica, uma cirurgia em Teresina, uma aposentadoria, um tapinha nas costas, uma visita no velório, uma rodada de pinga no bar, um emprego na prefeitura (mesmo que ficasse três ou quatro meses sem receber), etc. Sei que muitas dessas personalidades, que utilizam-se desses expedientes para chegarem ao poder, muitas vezes, em benefício próprio, também são filhos teus, e isso, certamente, provoca uma dor profunda em ti, e, confesso, um constrangimento inexplicável em mim. Mas como observador, dado o compromisso que tenho contigo, sou persuadido a expor o que julgo ser conveniente para este momento. 

Sei que é impossível detalhar tudo o que aconteceu no decorrer dos últimos 4 anos em uma carta. Mas, mesmo que fosse possível, devo lhe adiantar que não estou movido pela pretensão de abusar de sua paciência. Afinal, assim creio, que és sabedor em detalhes do que acontece em tuas terras. Neste sentido, cabe a mim, apenas realçar alguns acontecimentos que podem ser úteis a ti e aos filhos teus. Sim, momentos decisivos carecem de reflexão! É na hora de decidir que se faz necessário colocar a mesa os projetos que possuem viabilidade prática, com ênfase no interesse comum. E teus filhos vivem este momento! Embora, sejam por vezes levados por escolhas superficiais desprovidas da maturação necessária, são eles que decidem o que concorrem para sua glória - (com a promoção do bem comum) ou para sua derrota - (com a promoção de interesses escusos de um pequeno grupo de personalidades). Feitas estas considerações, retomemos com nossa memória.

Naquele ano de 2016, era notável o completo estrangulamento do teu sistema político administrativo. Um sistema que um dia havia sido adotado com a finalidade de trabalhar em favor de ti e dos teus filhos. Naquele ano, as personalidades que estavam no poder já não disfarçavam suas pretensões duvidosas. E, se não bastasse, queriam mais, muito mais! Por isso se apresentavam como solução para o caos, que em alguma medida tinha participação direta e indireta dos próprios. Sim, são especialistas em criar o caos e se apresentarem como solução. É difícil dizer isso meu amigo, mas julgo ser necessário neste momento. E não faço com o propósito de desprezá-los. Sou movido pela intenção de ao menos propor-lhes uma reflexão em torno dos seus atos. Pois desejo profundamente que se tornem homens e mulheres que ultrapassem a barreira do discurso vazio de sentido e de obras, para alcançar uma prática contínua de ações em favor do bem comum.

Meu amigo Dom Expedito Lopes, no que pese o cenário sombrio daquele ano, eis que surge uma luz. Um dos filhos teus, possivelmente, com mil e uma razão para não se envolver, mas que, de alguma forma sentia-se chamado, foi apresentado aos seus conterrâneos. Ladeado por aquele (in -  memória) que, notadamente, deu origem a sua história política, formaram uma aliança que saiu vitoriosa ao término da corrida eleitoral. Apesar das forças ocultas que operam no submundo da política municipal, com o objetivo de desvirtuar os menos atentos a realidade, houve uma vitória apertada, mas renascia ali um filete de esperança. Sim, a esperança voltava a reinar a exemplo, certamente, do período que se deu as primeiras iniciativas para emancipação política do seu território. Teu filho ilustre (in - memória) que protagonizou tua emancipação, agora testemunhava, como último ato em vida, esse momento histórico. Nascia um novo tempo para ti e para teus filhos.

CONSEQUÊNCIAS

Naturalmente, toda mudança positiva ou negativa, entra em confronto com as ideias e ações que existiam anteriormente. E este confronto, quando observada as devidas regras, me parece ser uma oportunidade singular para colocar em evidência o que é interesse comum e o que é interesse duvidoso. Infelizmente não foi isso que aconteceu. Logo nos primeiros meses de gestão, o teu filho se deparou com uma ferrenha campanha caluniosa que tinha como objetivo usurpar o posto de comando. Aliás, este é o modus operandi dos que buscam o poder a qualquer preço. É interessante notar que já são figuras bastante conhecidas dos teus filhos, mas que, lamentavelmente, mesmo sendo muitos deles envolvidos em sérias demandas judiciais, ainda gozam de algum prestígio político. Aqui, já é possível ter uma ideia de quem são os comprometidos contigo e com os teus e os reincidentes que se pavoneiam como bons moços, ocultando da massa suas reais pretensões. 

Naufragadas as tentativas de usurpação de comando via judicial, encontraram no legislativo municipal um campo fértil para seguirem com a busca insana pelo poder. E ali encontraram, possivelmente, na ambição de alguns, a matéria prima para consolidar a oposição do legislativo ao executivo municipal, tendo como alvo principal a derrubada daquele que foi legitimamente escolhido entre os seus. Intitulando-se, ao que parece, os bam bam bams da moral pública municipal, estes homens e mulheres do legislativo, chefiados por figuras ocultas, seguiram sob o pretexto de defesa de ti e dos teus filhos, com o visível esquema de perseguição. Alguns chegam a parecer nas redes sociais como criança birrenta. Sabe aquela criança que em algum momento acha que deve desafiar os pais! Pois é! É desse jeito que agem algumas personalidades do legislativo. Meu amigo, Dom Expedito Lopes, eu poderia até partilhar outras observações, mas para tornar a carta um pouco mais leve vou destacar um episódio, em certa medida, cômico, envolvendo o legislativo municipal. Claro, além da parte cômica da questão, existe também a reflexiva. 

No dia 28 de março de 2020, o Portal O Povo de Picos, trouxe matéria com o seguinte título: "vice-prefeito e vereadores são ameaçados ao vistoriarem piçarreira do cunhado do prefeito de Dom Expedito Lopes". A matéria que, a meu ver, precisa de uns toques jornalísticos, entre outros assuntos aborda a "reforma de uma barragem", segundo a matéria, feita pelo prefeito municipal. Na matéria consta que houve um rompimento, especialmente, na parte que houve a reforma. Este detalhe do rompimento rendeu uma analogia com o trágico caso de Brumadinho. Claro, em termos proporcionais, a comparação feita pelo o autor da matéria é de uma incoerência sem medida. A analogia apresentada ali cumpre apenas o bizarro papel de super dimensionar um fato inferior em todas as proporções, tendo por base um fato notadamente conhecido. Portanto, neste caso, citar Brumadinho num passa de um apelo psicológico desonesto, para quem diz querer ser protagonista de uma informação aceitável.

Após essa matéria, meu amigo, recebi um vídeo de um filho teu, que traduz de forma cômica, com uma originalidade impressionante, o episódio da barragem. Não o conheço, não sei das suas preferências políticas, só sei que dei boas risadas e fiquei a imaginar os teus jovens a desenvolver um humor crítico com aquela espontaneidade e qualidade. Segue na íntegra o relato humorístico do caso:

 
"Atenção senhores moradores de Dom Expedito Lopes, eu como filho de Dom Expedito, com os meus 59 anos, desde os dezoito que sou eleitor, venho informar a todos, segundo a Câmara Municipal, com a sua comissão, todos formados em engenharia, vieram informar que a barragem da emergência vai estourar, correndo o risco de inundar. A cidade de Dom Expedito só vai ficar com a torre da igreja de fora. Vai descer pela véia Bastiana, vai atingir o Retiro, Santa Cruz e a cidade de Oeiras. Está sendo convocado os corpos de bombeiros de toda microrregião para o atendimento a população de Dom Expedito Lopes. Essa barragem foi construída na gestão do senhor Zeca de Martins, na época foram gastos muitos bilhões de reais. Então, devido esse risco, as informações dadas pelos gestores da Câmara Municipal, todos formados em engenharia civil, a cidade será toda se locomovida para a Serra do Baliza, é o único local onde a água não vai atingir. Segundo as informações (das autoridades), todos tem de se ausentar de Dom Expedito Lopes o mais rápido possível, a qualquer momento a Cirene vai tocar e o risco é muito grande, vai ser uma tragédia maior do que a barragem de Brumadinho. Que todos tenham muito cuidado! Eu mesmo já estou indo para Serra do Baliza junto com minha família".

Ao observarmos alguns dos elementos que compõe a narrativa, é possível concluir que não se trata de uma notícia falsa e sim um relato humorístico. Vejamos: a) É consenso entre a população que não existe nenhuma barragem com esse potencial no citado território; b) É consenso que a ideia de convocar o corpo de bombeiros, expressa apenas o tom dramático da narrativa; c) É ponto pacífico que a época da construção da referida barragem não existia ainda o plano real; d) O município não dispõe de cirene que alerta em caso de rompimento, afinal, nem possui barragem com potencial de destruição. A ausência desses elementos deixa claro para toda pessoa de bom senso, que a narrativa apresentada possui apenas o caráter cômico com a finalidade de gozar da ação dos representantes da Câmara Municipal que insistem em procurar pelo em ovo. 

O oportuno comentário que foi feito por um homem de fala simples, sentado em uma calçada, trajando roupas simples, disprovido, a meu ver, de qualquer intensão que caracterize uma notícia falsa, se tornou alvo de uma matéria também publicada no Portal O Povo, que o acusava de produzir e compartilhar Fake News. Pelo jeito a liberdade de expressão exercida por um cidadão comum, foi o bastante para incomodar os donos da "verdade". A matéria afirma logo no primeiro parágrafo que "um boato causou pânico entre os moradores do município". Será realmente se foram os moradores que ficaram em Pânico? Ou o pânico reinou apenas em torno da Câmara Municipal? A matéria acrescenta que o homem utilizou-se de uma notícia verdadeira para propagar uma Fake News, que assustou segundo a publicação, a população idosa. Você acha mesmo que a população idosa, por alguma razão, chega a acreditar que o município possui uma barragem com esse potencial de destruição? Acho pouco provável esta tese. Ela se parece mais com um rasteiro apelo emocional. Nada mais que isso.

Como é típico nesses casos, prevalecem os dizeres da "autoridade". Aliás, tem se espalhado pelo Brasil, desde a Suprema Corte até as menores cidades, inúmeras iniciativas que visam claramente promover a censura, sob o pretexto de defesa do que chamam de democracia. A regra é clara: calar as vozes distoantes! Para atingir tais fins, citam leis, acionam o judiciário, se dizem vítimas, afirmando serem apenas cumpridores da ordem pública. Até quando vai durar este teatro? Quantos mais terão que ter suas vidas expostas, apenas por discordarem do que pensa os servidores do sistema? A Constituição já não garante mais a liberdade de expressão? Este assunto dá muito pano pra manga. Como não sou nenhum especialista em definir o que é ou não Fake News, passo a bola para os estudantes e especialistas em comunicação. A meu ver, o autor do vídeo foi acusado indevidamente de produzir e propagar Fake News. Para corroborar com a afirmação de que o conteúdo do vídeo possui caráter humorístico, compartilho com você um Canal no Youtube chamado Hipócritas, que possui um estilo de humor semelhante.

É isso meu amigo, como vê, são questões aparentemente insignificantes que quando refletidas dentro do seu devido grau de compreensão revelam muito do pouco que foi apresentado. É nesta conjuntura que o teu filho têm agido bravamente. Portanto, neste contexto, mais do que bater no peito e dizer que pertence ao lado A ou ao lado B, os teus filhos devem de forma desapaixonada pôr a mão na consciência e confrontar as razões que movem seus processos de escolhas. Tomadas de decisões desprovidas de razão, produzem consequências trágicas, a exemplo das que vinham sendo tomadas nos anos que antecederam 2016. Acredito, meu amigo Dom Expedito Lopes que toda pessoa, (inclui-se aqui, especialmente, os teus filhos), que preze pela honestidade intelectual, jamais vai hesitar em dizer, (mesmo considerando todas as limitações que ainda possui), o quanto você evoluiu nos últimos 4 anos. É verdade que ainda tem muito a ser feito, mas é preciso dizer em alto e bom som que o teu filho honrou a missão que a ele foi confiada. Ele deu o exemplo de como liderar uma família como a tua. Sim, meu amigo, em 2016 você estava um ser cadavérico, abandonado, desprezado, mais a providência divina e a ação de um filho diligente operou em ti, e hoje possui outra fisionomia. Hoje é possível ver pulsar em ti a vida – nas tuas ruas, estradas, praças, instituições, enfim, em teus filhos.

CONCLUSÃO

Pois é meu amigo, me uno aos teus para testemunhar as notáveis mudanças ocorridas ao longo dos últimos 4 anos. Desejo profundamente que a fórmula seja repetida. E embora não esteja presente fisicamente, quero que saiba, que continua em meu pensamento. Rogo a Deus, que toque o coração dos teus filhos, concedendo-lhes o discernimento necessário para que não entreguem o teu destino nas mãos dos que, comprovadamente, querem apenas sufocar a ti e os teus. Exorto particularmente, os jovens, os cristãos católicos ou não, os professores, os empresários, os agricultores, enfim, os homens e mulheres de boa vontade, que não se deixem levar pelo canto da sereia. O canto pode ser bonito, mas as consequências são trágicas. De modo geral, faz-se necessário lembrar que todo predador aquático oferece graves perigos para o ser humano. 

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01 - Carta ao Amigo Dom Expedito Lopes
Daniel Jorge
Enviado por Daniel Jorge em 27/09/2020
Alterado em 28/09/2020
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